Chistopher Türcke fala sobre a “sociedade da sensação”

por Iago Duque


O Salão Azul, do P1, na UFRRJ, já estava quase cheio quando um homem franzino com traços claramente europeus entrou. Era o alemão Christoph Türcke, 62 anos, requisitado professor de Filosofia da Universidade de Leipzig (Alemanha) que veio ao Brasil para palestrar em diversas universidades. Também veio para lançar por aqui dois de seus livros, “Sociedade Excitada” e “Filosofia do Sonho”. Na Rural, às 10h do dia 22 de setembro, Türcke  proferiu a palestra “Sociedade Excitada”. Ele falou em português. Mas isso não aumentou a compreensão da palestra por parte de alguns alunos que disseram não terem compreendido direito o que o professor dizia, devido ao seu carregado sotaque germânico.


A fala de Türcke teve como base seus dois livros recém-lançados no país. Ele defende a tese de que com o aprofundamento da revolução tecnológica vivida no final do século 20, passamos a viver no que chama de “sociedade da sensação”. Segundo ele, a “metralhadora audiovisual”, que é a imensa quantidade de imagens em que somos imersos, tem tornado seus “usuários” dependentes dela. Viciados. Para exemplificar, ele emprega o termo “injeções sensuais”, que seria qualquer corte imagético ou nova focagem que acertariam o espectador como um projétil, injetando nele doses de adrenalina. Segundo o professor, os usuários das altas tecnologias se expõem a essas doses de adrenalina do mesmo modo que os dependentes químicos se expõem aos efeitos das drogas. As pessoas se expõem a “choques imagéticos” que em pequena quantidade são ínfimos, mas a exposição a bilhões desses choques destroem a atenção que eles atraem magneticamente. Outro conceito defendido por Türcke é o de que a Igreja, o álcool e o cinema têm uma relação íntima em comum, pois “todos os três nutrem uma expectativa de salvação, cada um à sua maneira”. Ele defende que o vício tem um subtexto teológico, já que o viciado quer cada vez mais, é insaciável, pois quer viver o inédito, que o vem salvar.


A palestra foi palco de um momento inusitado, quando, por volta de uma hora depois de iniciada, muitas pessoas começaram a entrar no Salão, passando em frente ao púlpito onde estava o professor. Parecia ser uma fila  interminável. Foi o que bastou para que o público se manifestasse com risos e interrompesse a fala do palestrante. Apesar do imprevisto, Türcke demonstrou bom-humor ao elogiar o “bonito desfile” e perguntar ironicamente: “Mas o carnaval já passou, né?”, arrancando gargalhadas dos presentes. Depois soube-se que os retardatários eram alunos do campus de Nova Iguaçu, que tiveram problemas com o transporte que os levou até Seropédica.


Nascido em Hamelin (Alemanha), Türcke é professor da Universidade de Estudos Gráficos e Artes Livreiras de Leipzig. É autor de mais de 15 livros, sendo que no Brasil havia lançado apenas um: “O louco – Nietzsche e a mania da razão”, pela editora Vozes. O evento que o trouxe à Rural foi uma iniciativa do Grupo de pesquisa estética e crítica, do Colegiado de Filosofia/DLCS e do Colegiado de Letras/IM.

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